O Feio segundo Eco
"(...) Como a noção da Beleza, a da Fealdade varia consoante as eras, e de cultura para cultura. No que diz respeito à Beleza, certos aspectos básicos permaneceram constantes (ao menos na tradição Ocidental): por exemplo, a ideia de que a experiência da Beleza requer sempre um certo distanciamento, no sentido de que o objecto deve ser contemplado sem qualquer anseio de posse ou consumo. Ora, se a Fealdade consistisse simplesmente no oposto da Beleza, diríamos que aquela suscita mais envolvimento emocional. O que até é correcto para aquilo que é repelente, repugnante ou obsceno, mas podemos também experimentar a Fealdade em situações cómicas ou grotescas, nas quais o objecto ou a pessoa feios são contemplados com curiosidade ou divertimento, sem qualquer sensação de rejeição. Pense nos sete anões da Branca de Neve; em comparação com George Clooney, são certamente feios, mas consideramo-los deveras simpáticos. A noção de Fealdade abarca mais fenómenos do que a de Beleza. (...)
(...) as representações das coisas belas seguiram sempre um certo cânone, deixando um espaço limitado para a imaginação do artista. Com o Feio, os artistas podem ser mais inventivos. Tente imaginar a descrição literária de uma mulher bela: depois de enaltecer os olhos, o perfil, os lábios ou os cabelos, resta muito pouco a acrescentar. Pelo contrário, na representação do horrível e do repugnante a fantasia do artista pode ter rédea solta. A Beleza tem limites canónicos. A Fealdade é ilimitada nas suas possibilidades.
(...) Um mau artista pode fazer uma horrível representação de Vénus, assim como um grande artista pode representar Polifemo esplendidamente. Do mesmo modo, eu não convidaria uma mulher de Rubens para jantar, mas reconheço que, do ponto de vista artístico, elas são muito belas. Na história da arte há fascinentes representações ou criações de seres monstruosos - basta pensar em Hieronymus Bosch."
- Umberto Eco, in Expresso/Actual (24.11.07)
"(...) Como a noção da Beleza, a da Fealdade varia consoante as eras, e de cultura para cultura. No que diz respeito à Beleza, certos aspectos básicos permaneceram constantes (ao menos na tradição Ocidental): por exemplo, a ideia de que a experiência da Beleza requer sempre um certo distanciamento, no sentido de que o objecto deve ser contemplado sem qualquer anseio de posse ou consumo. Ora, se a Fealdade consistisse simplesmente no oposto da Beleza, diríamos que aquela suscita mais envolvimento emocional. O que até é correcto para aquilo que é repelente, repugnante ou obsceno, mas podemos também experimentar a Fealdade em situações cómicas ou grotescas, nas quais o objecto ou a pessoa feios são contemplados com curiosidade ou divertimento, sem qualquer sensação de rejeição. Pense nos sete anões da Branca de Neve; em comparação com George Clooney, são certamente feios, mas consideramo-los deveras simpáticos. A noção de Fealdade abarca mais fenómenos do que a de Beleza. (...)
(...) as representações das coisas belas seguiram sempre um certo cânone, deixando um espaço limitado para a imaginação do artista. Com o Feio, os artistas podem ser mais inventivos. Tente imaginar a descrição literária de uma mulher bela: depois de enaltecer os olhos, o perfil, os lábios ou os cabelos, resta muito pouco a acrescentar. Pelo contrário, na representação do horrível e do repugnante a fantasia do artista pode ter rédea solta. A Beleza tem limites canónicos. A Fealdade é ilimitada nas suas possibilidades.
(...) Um mau artista pode fazer uma horrível representação de Vénus, assim como um grande artista pode representar Polifemo esplendidamente. Do mesmo modo, eu não convidaria uma mulher de Rubens para jantar, mas reconheço que, do ponto de vista artístico, elas são muito belas. Na história da arte há fascinentes representações ou criações de seres monstruosos - basta pensar em Hieronymus Bosch."
- Umberto Eco, in Expresso/Actual (24.11.07)
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